A jornalista e filósofa Lia Diskin, no Festival Mundial da Paz, em Floripa (2006), nos presenteou com um caso de uma tribo na África chamada Ubuntu.
Ela contou que um antropólogo estava estudando os usos e costumes da tribo e, quando terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria catequizar os membros da tribo; então, propôs uma brincadeira pras crianças, que achou ser inofensiva.
Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito com laço de fita e tudo e colocou debaixo de uma árvore. Aí ele chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!", elas deveriam sair correndo até o cesto, e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro.
As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse "Já!", instantaneamente todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto. Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes.
O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou porque elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces.
Elas simplesmente responderam: "Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?"
Ele ficou desconcertado! Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo, e ainda não havia compreendido, de verdade,a essência daquele povo. Ou jamais teria proposto uma competição, certo?
Ubuntu significa: "Sou quem sou, porque somos todos nós!"
Atente para o detalhe: porque SOMOS, não pelo que temos...
Da alma e do espírito. Da Terra e dos Céus. Das raízes profundas e do dossel. Do alicerce e do campanário. Do yin e do yang. Do que é escuridão e do que é luz. Do homem e de Deus.
"A alma humana é crística por sua natureza". Tertuliano
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Pie Jesu por Jackie Evancho
É preciso ter voz de anjo para cantar esta canção. Jackie Evancho tinha apenas 10 anos quando cantou Pie Jesu no programa American Idol 2010. Sua performance é memorável. Jackie é um exemplo do que muitos consideram como Criança Índigo.
PIE JESU
Pie Jesu, (4x)
Qui tollis peccata mundi
Dona eis requiem. (2x)
Agnus Dei, (4x)
Qui tollis peccata mundi,
Dona eis requiem (2x)
Sempiternam. (2x)
PIEDOSO JESUS
Piedoso Jesus,
Que tirais o pecado do mundo
Dai-lhes a paz.
Cordeiro de Deus,
Que tirais o pecado do mundo
Dai-lhes a paz,
Eterna.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Deus e eu II
(Continuação do post de 22 de junho.)
Alguém que está alterado emocionalmente não consegue ter clareza da realidade. A realidade fica pintada com a cores da emoção. Se alguém está apaixonado vê o mundo através dos olhos do encanto e mal consegue perceber suas agruras, elas são todas suportáveis por causa de sua paixão. Por outro lado quem está em luto pode estar no lugar mais lindo do mundo e não conseguirá apreciar a paisagem à sua frente. A dor impede um olhar de deslumbramento diante do belo. Durante meu período depressivo o mundo para mim era cinza.
A fim de me ajudar a sair da depressão comecei a frequentar um grupo que pratica tai chi chuan (e este foi fundamental para minha melhora).
Durante uma aula especial de tai chi o mestre nos falou o seguinte: "uma mente doente é incapaz de pensar coerentemente sobre Deus". Aquelas palavras me fizeram refletir muito sobre como eu pensava ou tentava pensar Deus. Entendi que qualquer pensamento que eu tivesse sobre Deus estaria contaminado com minha angústia. Era tão óbvia a ideia porque eu sabia que eu tinha uma visão pessimista sobre o mundo e sobre tudo. Mas eu precisei que alguém falasse sobre a ligação incoerente entre uma 'mente doente' e 'Deus". Algo começava a mudar em mim.
Desisti da ideia de pensar sobre Deus. Na verdade acho que comecei a respeitar meu momento. Já que quase tudo o que eu pensava tinha a marca do meu pessimismo era preferível deixar determinadas questões em suspenso.
Criou-se, então, um vazio muito grande. A 'briga' com Deus preenchia um pouco este vazio. Ao deixar a questão de Deus em suspenso comecei a olhar para mim mesmo. E ao buscar um olhar para mim me aproximei do budismo até porque vários praticantes do tai chi eram budistas. No começo o que era exótico passou a ser interessante na medida em que eu conversava com meus colegas de prática.
O budismo vinha a calhar. Pra mim, naquela época, era uma filosofia que por ter um viés bastante psicológico somava-se à minha aproximação da psicanálise por conta da terapia que eu fazia. A racionalidade budista ia ao encontro do meu academicismo universitário e tem um prática comportamental bem definida por uma ética. Eu me sentia bastante a vontade com o budismo. Comecei uma mudança interior.
No período do processo de leituras e mudança de acordo com a ética budista eu me mudei de casa. Deixei a casa de meus pais e fui morar sozinho. Por viver sozinho em um apartamento eu conquistei um fator que mudou radicalmente minha vida: o silêncio.
Longe do envolvimento emocional familiar e a calma de várias horas de solidão me obrigaram a escutar uma voz que eu desconhecia. Só o silêncio possibilita um reordenamento mental e uma auto análise mais sistemática e profunda. Mas não é nada fácil. Neste momento também resolvi frequentar um curso de yoga.
Achei que poderia me ajudar com uma certa ansiedade que eu vinha sentindo. A yoga me ajudou muito, foi como se eu fosse me colocando no meu próprio eixo. Sentia-me mais completo e comecei a ter algum vislumbre de felicidade. Aí tudo mudou novamente.
O universo agiu. Uma sequência de fatos, pessoas que apareciam do nada, situações aparentemente banais começaram a criar um panorama de simultaneidades e conectividades. Minha intuição aflorou e eu senti que tinha perdido o chão.
Durante algum tempo eu mergulhei num vórtice de percepção que me colocava entre dois planos. Eu tive muito, mas muito medo do desconhecido. Ao mesmo tempo estava muito instigado, deslumbrado e não me faltava coragem. Aprendi em 6 meses o que eu não entendi até os 38 anos. Eu dei um passo adentro do mistério da vida . Foi o meu despertar espiritual (em um outro post pretendo aprofundar este momento). O medo me fez me aproximar da minha fé de infância. Exatamente: a fé experimentada dentro da igreja quando eu ainda era um menino. O meu porto seguro foi o meu primeiro sentimento de Deus, do Deus-Pai criador. E a expressão disto eram minhas primeiras orações aprendidas, principalmente o Pai-Nosso. Esta oração, pra mim, é um capítulo a parte (como muita coisa é), mas neste espaço preciso resumir por enquanto. A fase seguinte foi da reconciliação.
Reconciliação com o catolicismo e seus ensinamentos. A necessidade fez ficar claro para mim que eu não podia jogar fora todo o ensinamento cristão que foi me proporcionado pela igreja. Ao contrário, aprendi que este ensinamento, mesmo com o método e a didática do livrinho de perguntas e respontas prontas do catecismo, era valioso para a construção da minha espiritualidade.
Eu reencontrava Deus. O 'meu primeiro' Deus. Deus Pai criador. Já aquele Deus punitivo ficou perdido em algum lugar do caminho. A minha alma, como uma casa, estava reformada e não havia mais espaço para o 'Deus-super-poderoso-punitivo'. A minha alma só aceitava então um Deus de amor e generosidade. Eu sabia que eu havia construido, ou reformado, um espaço para caber só este Deus. E aí... a ideia de uma reforma interna que define o 'visitante' começou a me incomodar.
continua...
Alguém que está alterado emocionalmente não consegue ter clareza da realidade. A realidade fica pintada com a cores da emoção. Se alguém está apaixonado vê o mundo através dos olhos do encanto e mal consegue perceber suas agruras, elas são todas suportáveis por causa de sua paixão. Por outro lado quem está em luto pode estar no lugar mais lindo do mundo e não conseguirá apreciar a paisagem à sua frente. A dor impede um olhar de deslumbramento diante do belo. Durante meu período depressivo o mundo para mim era cinza.
A fim de me ajudar a sair da depressão comecei a frequentar um grupo que pratica tai chi chuan (e este foi fundamental para minha melhora).
Durante uma aula especial de tai chi o mestre nos falou o seguinte: "uma mente doente é incapaz de pensar coerentemente sobre Deus". Aquelas palavras me fizeram refletir muito sobre como eu pensava ou tentava pensar Deus. Entendi que qualquer pensamento que eu tivesse sobre Deus estaria contaminado com minha angústia. Era tão óbvia a ideia porque eu sabia que eu tinha uma visão pessimista sobre o mundo e sobre tudo. Mas eu precisei que alguém falasse sobre a ligação incoerente entre uma 'mente doente' e 'Deus". Algo começava a mudar em mim.
Desisti da ideia de pensar sobre Deus. Na verdade acho que comecei a respeitar meu momento. Já que quase tudo o que eu pensava tinha a marca do meu pessimismo era preferível deixar determinadas questões em suspenso.
Criou-se, então, um vazio muito grande. A 'briga' com Deus preenchia um pouco este vazio. Ao deixar a questão de Deus em suspenso comecei a olhar para mim mesmo. E ao buscar um olhar para mim me aproximei do budismo até porque vários praticantes do tai chi eram budistas. No começo o que era exótico passou a ser interessante na medida em que eu conversava com meus colegas de prática.
O budismo vinha a calhar. Pra mim, naquela época, era uma filosofia que por ter um viés bastante psicológico somava-se à minha aproximação da psicanálise por conta da terapia que eu fazia. A racionalidade budista ia ao encontro do meu academicismo universitário e tem um prática comportamental bem definida por uma ética. Eu me sentia bastante a vontade com o budismo. Comecei uma mudança interior.
No período do processo de leituras e mudança de acordo com a ética budista eu me mudei de casa. Deixei a casa de meus pais e fui morar sozinho. Por viver sozinho em um apartamento eu conquistei um fator que mudou radicalmente minha vida: o silêncio.
Longe do envolvimento emocional familiar e a calma de várias horas de solidão me obrigaram a escutar uma voz que eu desconhecia. Só o silêncio possibilita um reordenamento mental e uma auto análise mais sistemática e profunda. Mas não é nada fácil. Neste momento também resolvi frequentar um curso de yoga.
Achei que poderia me ajudar com uma certa ansiedade que eu vinha sentindo. A yoga me ajudou muito, foi como se eu fosse me colocando no meu próprio eixo. Sentia-me mais completo e comecei a ter algum vislumbre de felicidade. Aí tudo mudou novamente.
O universo agiu. Uma sequência de fatos, pessoas que apareciam do nada, situações aparentemente banais começaram a criar um panorama de simultaneidades e conectividades. Minha intuição aflorou e eu senti que tinha perdido o chão.
Durante algum tempo eu mergulhei num vórtice de percepção que me colocava entre dois planos. Eu tive muito, mas muito medo do desconhecido. Ao mesmo tempo estava muito instigado, deslumbrado e não me faltava coragem. Aprendi em 6 meses o que eu não entendi até os 38 anos. Eu dei um passo adentro do mistério da vida . Foi o meu despertar espiritual (em um outro post pretendo aprofundar este momento). O medo me fez me aproximar da minha fé de infância. Exatamente: a fé experimentada dentro da igreja quando eu ainda era um menino. O meu porto seguro foi o meu primeiro sentimento de Deus, do Deus-Pai criador. E a expressão disto eram minhas primeiras orações aprendidas, principalmente o Pai-Nosso. Esta oração, pra mim, é um capítulo a parte (como muita coisa é), mas neste espaço preciso resumir por enquanto. A fase seguinte foi da reconciliação.
Reconciliação com o catolicismo e seus ensinamentos. A necessidade fez ficar claro para mim que eu não podia jogar fora todo o ensinamento cristão que foi me proporcionado pela igreja. Ao contrário, aprendi que este ensinamento, mesmo com o método e a didática do livrinho de perguntas e respontas prontas do catecismo, era valioso para a construção da minha espiritualidade.
Eu reencontrava Deus. O 'meu primeiro' Deus. Deus Pai criador. Já aquele Deus punitivo ficou perdido em algum lugar do caminho. A minha alma, como uma casa, estava reformada e não havia mais espaço para o 'Deus-super-poderoso-punitivo'. A minha alma só aceitava então um Deus de amor e generosidade. Eu sabia que eu havia construido, ou reformado, um espaço para caber só este Deus. E aí... a ideia de uma reforma interna que define o 'visitante' começou a me incomodar.
continua...
segunda-feira, 27 de junho de 2011
O bom uso das palavras
Pr 12.18 !"Há alguns, cujas palavras são como ponta de espada, mas a língua do sábio é remédio".
As Coisas que a Gente Fala
Ruth Rocha
As coisas que a gente fala saem da boca da gente e vão voando, voando, correndo sempre pra frente.
Entrando pelos ouvidos de quem estiver presente.
Quando a pessoa presente é pessoa distraída e não presta muita atenção.
Então as palavras entram e saem pelo outro lado sem fazer complicação.
Mas ás vezes as palavras vão entrando nas cabeças, vão dando voltas e voltas, fazendo reviravoltas E vão dando piruetas.
Quando saem pela boca saem todas enfeitadas.
Engraçadas, diferentes, como palavras penduradas.
Mas depende das pessoas que repetem as palavras. Algumas enfeitam pouco.
Algumas enfeitam muito. Algumas enfeitam tanto, que as palavras - que
engraçado! - nem parece as palavras que entraram pelo outro lado.
E depois que elas se espalham, por mais que a gente procure, por mais que a gente recolha, sempre fica uma palavra, voando como uma folha, caindo pelos quintais,
pousando pelos telhados, entrando pelas janelas, pendurada nos beirais.
Por isso, quando falamos, temos de tomar cuidado. Que as coisas que a gente fala
vão voando, vão voando, e ficam por todo lado. E até mesmo modificam o que era nosso recado. (...)
Pronto! Lá vão as palavras! Vão voando, vão voando...
Entrando pelos ouvidos De quem estiver passando.
E depois que elas se espalham, por mais que a gente procure, por mais que a gente recolha, sempre fica uma palavra, voando como folha, caindo pelos quintais, pousando pelos telhados, entrando pelas janelas, pendurada nos beirais.
As palavras continuam a voar pela cidade. Vão entrando nos ouvidos de gente de toda idade. E aquilo que era mentira até parece verdade... As coisas que a gente fala
saem da boca da gente e vão voando, voando, correndo sempre pra frente.
Sejam palavras bonitas uu sejam palavras feias; sejam mentira ou verdade ou sejam verdades meias; são sempre muito importantes as coisas que a gente fala. Aliás, também têm força as coisas que a gente cala. Às vezes, importam mais que as coisas que a gente faz...
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Deus e eu
Uma das maiores questões humanas, para muitos a maior, é a sobre a relação com Deus. Ou se ele existe ou deixa de existir. É impossível um ser consciente de si passar pela vida sem fazer questões que remetam a Deus: Quem sou eu? De onde venho? Para que serve a vida? Quem criou o universo? O que é a natureza? Mesmo que indiretamente todas estas questões nos remetem a um princípio criador ou a um princípio que explicaria os desdobramentos da vida. Questões que nos levam a Deus. Ou ainda podemos nos questionar diretamente: Quem é Deus? Deus existe? Se existe quem O criou? Como é Deus? Deus, Universo, Natureza, o Absoluto, qual seu verdadeiro nome e sua essência? Etc.
Qualquer resposta que se dê a qualquer uma destas questões ficará insuficiente. Impossível responder satisfatoriamente, impossível ficar sem se perguntar.
A maneira como nos relacionamos com tais questões podem definir nossa vida e a forma como a encaramos.
Tive uma educação religiosa católica. Meu pai foi um fervoroso católico que na sua idade mais jovem dava aulas de catecismo, fazia novenas, fez parte de congregação dos devotos de Maria, foi ministro do batismo etc. Minha mãe também muito fervorosa. Apesar de pouco participativa de reuniões na igreja e nas suas missas ainda assim poderia se dizer que ela é uma católica praticante. Ainda hoje reza seus terços. Minha educação religiosa foi rigorosa, tradicional e rígida. Lembro-me ainda do livro de catecismo de mais de uma centena de perguntas com respostas prontas e definitivas. Decorei-as todas. Não me lembro de mais nenhuma. Ainda bem.
Deus para mim era o super-todo-poderoso onisciente, onipresente e onipotente que via tudo e punia tudo. Quando criança eu tinha medo de Deus. Eu também, por conta das lições familiares e do catecismo, sentia muita culpa. Existia um Deus repressor e punitivo que vingaria cada pecado. Ao mesmo tempo era um Deus que não satisfazia em nada as questões que eu me colocava e que não eram permitidas de serem expostas. Se pelo menos minhas questões fossem, mesmo que parcialmente, respondidas suportar tal Deus seria menos doloroso.
Com o tempo me afastei do Deus do medo e da culpa. À medida que crescemos novas referências e novos questionamentos se somam ou excluem referências rígidas de uma infância limitada. No entanto novas perguntas surgiam e se acumulavam a outras mais antigas.
Apesar do distanciamento do antigo Deus antigas feridas ficaram abertas.
Eu não agüentei sustentar mais um Deus que não respondia minhas perguntas mais básicas, nem por isso mais essenciais, e ao mesmo tempo me trazia à lembrança um tempo de medo, angústia e muitas culpas. Aquele Deus eu precisava deixá-lo.
A universidade foi a pá de cal. Aquele Deus não resistiu à análise crítica e à História. O relacionamento amoroso sério com uma colega de classe da faculdade, cuja família era de intelectuais e ateus, ajudou a finalizar de vez minha relação com aquele Deus da infância.
Passei a negá-Lo.
A negação pode ser apenas uma forma de tentar desacreditar algo que tem importância crucial para alguém. A negação muitas vezes nos aproxima ainda mais do objeto negado. A negação de Deus como uma forma de ateísmo pode ser simplesmente a reafirmação de Deus pela via contrária. Para Freud a negação é um mecanismo de defesa do inconsciente. Se negamos sistematicamente algo é porque, muito provavelmente, o contrário é verdadeiro. Tal situação é conhecida popularmente pelo ditado “quem desdenha quer comprar”. E assim pode ocorrer com inúmeros “ateus”. Assim, pelo menos, ocorria comigo.
Não demorou muito para eu perceber que eu não conseguia sustentar a idéia da inexistência de Deus. Já ouvi (ou li) que um ateu tornar-se crente é bem possível, já um crente tornar-se ateu.... Eu, então, como um ser produzido das entranhas do racionalismo acadêmico achei uma saída bastante oportuna: tornei-me agnóstico. Defendia a idéia, então, que assim como não era possível provar a existência de Deus também era impossível provar sua inexistência. Era uma situação cômoda. Eu estava em cima do muro.
Este período (de negação e agnosticismo) foi o tempo mais difícil da minha vida. Eu passava por sérios problemas emocionais. Foi diagnosticado depressão. Uma coisa estava diretamente relacionada à outra. O meu, pelo menos aparente, distanciamento de Deus, contribuía para uma ausência total de perspectiva de vida. E o meu olhar (pessimista) sobre o mundo me fazia desacreditar em Deus. As velhas e batidas questões não saiam da minha mente: “Como pode existir um Deus que permite a tragédia que é o continente africano?” “Como pode existir Deus com tanta injustiça?” Etc. O buraco era muito fundo e a ajuda parecia distante, senão inexistia. Um provérbio chinês expressava bem o que eu passava: “O céu há de parecer pequeno para quem o olha do fundo do poço”. Eu estava lá e me sentia sozinho.
Continua...
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Amor
"...o amor não é algo que podemos nos obrigar a sentir, nem que podemos sentir por decisão do intelecto. O amor nem ao menos é um sentimento. É um estado do ser, de entrega, de perfeita renúncia a toda sorte de separação, quanto a qualquer parte de si mesmo, a outros seres humanos, ao mundo natural e aos domínios do espírito. O amor é eterno e também se gera a cada momento. Em sua base, todos os ensinamentos espirituais verdadeiros visam nos ajudar a a entrar nesse momento eterno do amor."
Fonte: "Entrega ao Deus Interior" de Eva Pierrakos e Donovan Thesenga.
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Guerreiros da Paz - Xamã Orestes Grokar
GUERREIROS DA PAZ
Eu chamo a força, eu chamo a força, eu chamo a força
força das pedras para me firmar
Eu chamo a terra, eu chamo a terra, eu chamo a terra
eu chamo a terra para me enraizar
Eu chamo o vento, eu chamo o vento, eu chamo o vento
eu chamo o vento vem me elevar
Eu chamo o fogo, eu chamo o fogo, eu chamo o fogo
eu chamo o fogo para me purificar
Eu chamo a Lua, chamo o Sol, chamo as estrelas
Chamo o universo para me iluminar
Eu chamo a água, chamo a chuva e chamo o rio
Eu chamo todos para me lavar
Eu chamo o raio, o relâmpago e o trovão
Eu chamo todo o poder da criação
Eu chamo o mar, chamo o céu e o infinito
Eu chamo todos para nos libertar
Eu chamo Cristo, eu chamo Budha, eu chamo Krishna
Eu chamo a força de todos orixás
Eu chamo todos com suas forças divinas
Eu quero ver o universo iluminar
Eu agradeço pela vida e a coragem
Ao universo pela oportunidade
E a minha vida eu dedico com amor
Ao sonho vivo da nossa humanidade
Sou mensageiro, sou cometa, eu sou indígena
Eu sou filho da nação do Arco Íris
Com meus irmãos eu vou ser mais um guerreiro
Na nobre causa do Inka Redentor
Eu sou guerreiro, eu sou guerreiro e vou lutando
A minha espada é a palavra do amor
O meu escudo é a bondade no meu peito
E o meu elmo são os dons do meu senhor
Eu agradeço a nossa Mãe e ao nosso Pai
E aos meus irmãos por todos me ajudar
A minha glória para todos eu entrego
Porque nós todos somos um nesta união
Ñdarei a sã
ñdarei a sã
ñdarei a sã
Desde o principio
todos nós somos irmãos!
Orei ouá
Orei ouá
Orei ouá
Viva o Poder de todo o universo!
* *
Música de Orestes Grokar, regente das cerimônias xâmanicas dentro da Doutrina do Santo Daime em Santa Maria no Rio Grande do Sul.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Quem herdará o Reino dos Céus e da Terra?
Sermão da Montanha (Mt 5,1-2)
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos Céus!
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus!
Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim.
Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
sexta-feira, 13 de maio de 2011
O mundo além das palavras - Jalal-ud-Din Rumi
Dentro deste mundo há um outro mundo impermeável às palavras.
Nele, nem a vida teme a morte, nem a primavera dá lugar ao outono.
Histórias e lendas surgem dos tetos e paredes, até mesmo as rochas e árvores exalam poesia.
Aqui, a coruja transforma-se em pavão; o lobo, em belo pastor.
Para mudar a paisagem, basta mudar o que sentes;
E se queres passear por esses lugares, basta expressar o desejo.
Fixa o olhar no deserto de espinhos.
- Já é agora um jardim florido!
Vês aquele bloco de pedra no chão?
- Já se move e dele surge a mina de rubis!
Lava tuas mãos e teu rosto nas águas deste lugar, que aqui te preparam um fausto banquete.
Aqui, todo ser gera um anjo; e quando me vêem subindo aos céus, os cadáveres retornam à vida.
Decerto viste as árvores crescendo da terra, mas quem há de ter visto o nascimento do Paraíso?
Viste também as águas dos mares e rios, mas quem há de ter visto nascer de uma única gota d'água uma centúria de guerreiros?
Quem haveria de imaginar essa morada, esse céu, esse jardim do paraíso?
Tu, que lês este poema, traduze-o. Diz a todos o que aprendeste sobre este lugar.
Voz :Letícia Sabatella - Imagens : Cedar Lee - Música: Marcus Viana
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Derrame de Percepção e Espiritualidade
Em 9 de dezembro de 1996, a neuroanatomista norte-americana Jill Bolte Taylor tinha 37 anos e foi para a cama com uma preocupação: como abastecer o banco de cérebros da Universidade Harvard, onde trabalhava, com órgãos recém-retirados de vítimas de doenças mentais. Na manhã seguinte, seu mundo racional começou a se desintegrar.
Um coágulo no hemisfério esquerdo (ligado à razão) do seu cérebro provocou um derrame. Assim, ela teve de contar apenas com o hemisfério direito (associado ao pensamento simbólico e à criatividade) em um processo de recuperação que partiu da estaca zero. Quando a mãe da cientista — uma ex-professora de matemática — tentou ensinar o que era 1 + 1, ouviu como resposta: “O que é 1?”.
Meu pai sofreu um derrame em 2009 do qual veio falecer das suas complicações 5 meses mais tarde. O lado direito do corpo ficou paralisado, ou seja, o hemisfério esquerdo do cérebro foi o afetado. A linguagem ficou também comprometida, ele, no máximo, balbuciava. A família próxima sentiu que ele pudesse ter tido experiências místicas. Pelo menos essa a impressão que tivemos na época. Não sabemos. Ele não tinha como comunicar. Ele era uma pessoa muito religiosa o que provavelmente deixava seus canais de percepção espiritual abertos para tais experiências. A noção mais clara para mim era de um espírito preso a um corpo que ele não mais comandava. Foi doloroso para todos, mas também foi um aprendizado.
PS : Jill Taylor escreveu um livro intitulado "A cientista que curou seu próprio cérebro" (foto no início do post) onde ela narra detalhadamente sua experiência.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
EU MAIOR
Prem Baba, mestre da linhagem Sachcha da Índia.
Monja Coen, missionária oficial da tradição Soto Shu de Zen Budismo.
Ari Raynsford é doutor em Engenharia Nuclear e Mestre em Engenharia Mecânica.
EU MAIOR traz uma reflexão contemporânea sobre autoconhecimento e busca da felicidade, por meio de entrevistas com expoentes de diferentes áreas, incluindo líderes espirituais, intelectuais, artistas e esportistas. Um filme sobre questões essenciais e universais, numa época de grandes transformações e desafios, que pedem níveis mais altos de discernimento e consciência individual.
Com duração prevista de 100 minutos, EU MAIOR está em fase de produção. O lançamento, no final de 2011, se dará progressivamente em cinema, tv, dvd e internet - onde a veiculação será gratuíta.
Lenda egípcia do Peixinho Vermelho
No centro de formoso jardim, havia um grande lago, adornado de ladrilhos azul- turquesa.
Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita.
Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de peixes, a se refestelarem, nédios e satisfeitos, em complicadas locas, frescas e sombrias. Elegeram um dos concidadãos de barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam, plenamente despreocupados, entre a gula e a preguiça.
Junto deles, porém, havia um peixinho vermelho, menosprezado de todos.
Não conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos. Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso.
O peixinho vermelho que nadasse e sofresse.
Por isso mesmo era visto, em correria constante, perseguido pela canícula ou atormentado de fome.
Não encontrando pouso no vastíssimo domicílio, o pobrezinho não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse.
Fez o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia, com precisão, onde se reuniria maior massa de lama por ocasião de aguaceiros.
Depois de muito tempo, à custa de longas perquirições, encontrou a grade do escoadouro.
À frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, refletiu consigo:
- "Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?"
Optou pela mudança.
Apesar de macérrimo, pela abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima.
Pronunciando votos renovadores, avançou, otimista, pelo rego d'água, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança...
Em breve, alcançou grande rio e fez inúmeros conhecimentos.
Encontrou peixes de muitas famílias diferentes, que com ele simpatizaram, instruindo-o quanto aos percalços da marcha e descortinando-lhe mais fácil roteiro.
Embevecido, contemplou nas margens homens e animais, embarcações e pontes, palácios e veículos, cabanas e arvoredo.
Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, jamais perdendo a leveza e a agilidade naturais.
Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.
De início, porém, fascinado pela paixão de observar, aproximou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em que vivera não seria mais que diminuta ração; impressionado com o espetáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária.
Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando proteção no bojo do monstro e, não obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes marinhas.
O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias simpáticas e aprendeu a evitar os perigos e tentações.
Plenamente transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida. Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas móveis e flores diferentes no seio das águas. Sobretudo, descobriu a existência de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz.
Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral que elegera, com centenas de amigos, para residência ditosa, quando, ao se referir ao seu começo laborioso, veio a saber que somente no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de outra altitude, continuariam a correr para o oceano.
O peixinho pensou, pensou... e sentindo imensa compaixão daqueles com quem convivera na infância, deliberou consagrar-se à obra do progresso e salvação deles.
Não seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? não seria nobre ampará-los, prestando-lhes a tempo valiosas informações?
Não hesitou.
Fortalecido pela generosidade de irmãos benfeitores que com ele viviam no Palácio de Coral, empreendeu comprida viagem de volta.
Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar.
Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros. Estimulado pela proeza de amor que efetuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a coletividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou que ninguém se mexia.
Todos os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de lotus, de onde saíam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas desprezíveis.
Gritou que voltara a casa, mas não houve quem lhe prestasse atenção, porquanto ninguém, ali, havia dado pela ausência dele.
Ridicularizado, procurou, então, o rei de guelras enormes e comunicou-lhe a reveladora aventura. O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reuniu o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse.
O benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu, com ênfase, que havia outro mundo líquido, glorioso e sem fim. Aquele poço era uma insignificância que podia desaparecer, de momento para outro. Além do escoadouro próximo desdobravam-se outra vida e outra experiência. Lá fora, corriam regatos ornados de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde a vida aparece cada vez mais rica e mais surpreendente. Descreveu o serviço de tainhas e salmões, de trutas e esqualos. Deu notícias do peixe-lua, do peixe-coelho e do galo-do-mar. Contou que vira o céu repleto de astros sublimes e que descobrira árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros temíveis, jardins submersos, estrelas do oceanos e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranqüilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente seu preço. Deveriam todos emagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larva e tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto quanto era necessário à venturosa jornada.
Antes que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a preleção.
Ninguém acreditou nele.
Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram, solenes, que o peixinho vermelho delirava, que outra vida além do poço era francamente impossível, que aquelas história de riachos, rios e oceanos era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia os olhos voltados para eles unicamente.
O soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho, dirigiu-se em companhia dele até a grade de escoamento e, tentando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante:
- "Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo! vai-te daqui! não nos perturbes o bem-estar... Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém possui vida igual à nossa!..."
Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se, em definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo.
Depois de alguns anos, apareceu pavorosa e devastadora seca.
As águas desceram de nível. E o poço onde viviam os peixes pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidade inteira a perecer, atolada na lama...
Retirado do prefácio do livro "LIBERTAÇÃO", de André Luiz - Psicografia de Francisco Cândido Xavier
Edição FEB
Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita.
Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de peixes, a se refestelarem, nédios e satisfeitos, em complicadas locas, frescas e sombrias. Elegeram um dos concidadãos de barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam, plenamente despreocupados, entre a gula e a preguiça.
Junto deles, porém, havia um peixinho vermelho, menosprezado de todos.
Não conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos. Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso.
O peixinho vermelho que nadasse e sofresse.
Por isso mesmo era visto, em correria constante, perseguido pela canícula ou atormentado de fome.
Não encontrando pouso no vastíssimo domicílio, o pobrezinho não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse.
Fez o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia, com precisão, onde se reuniria maior massa de lama por ocasião de aguaceiros.
Depois de muito tempo, à custa de longas perquirições, encontrou a grade do escoadouro.
À frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, refletiu consigo:
- "Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?"
Optou pela mudança.
Apesar de macérrimo, pela abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima.
Pronunciando votos renovadores, avançou, otimista, pelo rego d'água, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança...
Em breve, alcançou grande rio e fez inúmeros conhecimentos.
Encontrou peixes de muitas famílias diferentes, que com ele simpatizaram, instruindo-o quanto aos percalços da marcha e descortinando-lhe mais fácil roteiro.
Embevecido, contemplou nas margens homens e animais, embarcações e pontes, palácios e veículos, cabanas e arvoredo.
Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, jamais perdendo a leveza e a agilidade naturais.
Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo.
De início, porém, fascinado pela paixão de observar, aproximou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em que vivera não seria mais que diminuta ração; impressionado com o espetáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária.
Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando proteção no bojo do monstro e, não obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes marinhas.
O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias simpáticas e aprendeu a evitar os perigos e tentações.
Plenamente transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida. Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas móveis e flores diferentes no seio das águas. Sobretudo, descobriu a existência de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz.
Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral que elegera, com centenas de amigos, para residência ditosa, quando, ao se referir ao seu começo laborioso, veio a saber que somente no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de outra altitude, continuariam a correr para o oceano.
O peixinho pensou, pensou... e sentindo imensa compaixão daqueles com quem convivera na infância, deliberou consagrar-se à obra do progresso e salvação deles.
Não seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? não seria nobre ampará-los, prestando-lhes a tempo valiosas informações?
Não hesitou.
Fortalecido pela generosidade de irmãos benfeitores que com ele viviam no Palácio de Coral, empreendeu comprida viagem de volta.
Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar.
Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros. Estimulado pela proeza de amor que efetuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a coletividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou que ninguém se mexia.
Todos os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de lotus, de onde saíam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas desprezíveis.
Gritou que voltara a casa, mas não houve quem lhe prestasse atenção, porquanto ninguém, ali, havia dado pela ausência dele.
Ridicularizado, procurou, então, o rei de guelras enormes e comunicou-lhe a reveladora aventura. O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reuniu o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse.
O benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu, com ênfase, que havia outro mundo líquido, glorioso e sem fim. Aquele poço era uma insignificância que podia desaparecer, de momento para outro. Além do escoadouro próximo desdobravam-se outra vida e outra experiência. Lá fora, corriam regatos ornados de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde a vida aparece cada vez mais rica e mais surpreendente. Descreveu o serviço de tainhas e salmões, de trutas e esqualos. Deu notícias do peixe-lua, do peixe-coelho e do galo-do-mar. Contou que vira o céu repleto de astros sublimes e que descobrira árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros temíveis, jardins submersos, estrelas do oceanos e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranqüilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente seu preço. Deveriam todos emagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larva e tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto quanto era necessário à venturosa jornada.
Antes que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a preleção.
Ninguém acreditou nele.
Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram, solenes, que o peixinho vermelho delirava, que outra vida além do poço era francamente impossível, que aquelas história de riachos, rios e oceanos era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia os olhos voltados para eles unicamente.
O soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho, dirigiu-se em companhia dele até a grade de escoamento e, tentando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante:
- "Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo! vai-te daqui! não nos perturbes o bem-estar... Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém possui vida igual à nossa!..."
Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se, em definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo.
Depois de alguns anos, apareceu pavorosa e devastadora seca.
As águas desceram de nível. E o poço onde viviam os peixes pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidade inteira a perecer, atolada na lama...
Retirado do prefácio do livro "LIBERTAÇÃO", de André Luiz - Psicografia de Francisco Cândido Xavier
Edição FEB
sábado, 30 de abril de 2011
Beatificação
Parece que o Vaticano resolveu endossar as profecias de São Malaquias. Como eu comentei no post de 18 de abril São Malaquias definiu um lema para cada papa desde o século XII até o "último papa", ou seja, o próximo depois de Bento XVI. O lema de João Paulo II é "De labore solis" ou "O trabalho do sol". João Paulo II tem alguns momentos cruciais da sua vida marcados por eclipses e é considerado um dos papas que mais trabalhou na visitação a países e expansão do catolicismo. Ele será beatificado hoje, 1° de Maio, Dia Internacional do Trabalho. Coincidência?
sábado, 23 de abril de 2011
Ressurreição e Renascimento
Para ressuscitar é necessário morrer primeiro. Para renascer basta estar vivo fisicamente. Renascimentos podem ocorrer várias vezes em nossas vidas. Basta ocorrer algo que quase nos leve à morte ou que nos faça encarar a vida e o mundo de modo muito diferente do que estávamos acostumados. A nova forma como encaramos o mundo nos faz sentir que é uma outra vida e que, portanto, se trata de um nascer. No mais, se a mudança foi muito brusca e repentina podemos encarar o encerramento de nosso antigo modo de viver como morte. Talvez uma morte psicológica, se isto for possível. Há, portanto, quem morra várias vezes numa mesma vida. E há quem renasça ao descobrir que a morte física é um novo nascer.
Ressuscitar, portanto, só seria, de fato, possível com a existência da morte. Se é possível numa mesma vida vários renascimentos e, após esta vida, novos nascimentos o que chamamos de morte é apenas uma conexão, um ponto, entre estas várias, senão, infinitas vidas. Renascimentos e nascimentos são mais prolongados e, muitas vezes, mais dolorosos do que a transição entre estes processos. Ressuscitar não é, talvez, mais importante que renascer ou nascer de novo. Até porque o único que "ressuscitou" disse que o homem precisa nascer de novo para ter a vida eterna (Jo 3,1-8). E mais, se ele mesmo disse que veio para que todos tenham vida plena (Jo 10,10) sua "ressurreição" só tem significado com o renascimento do homem em vida. Senão ele não teria "ressuscitado". Não há porque esperar morrer para "ressuscitar", até porque nasceremos de novo. Temos que fazer valer sua "ressurreição" através do nosso renascimento, da nossa mudança de vida (em vida) na perspectiva da perfeição (Mt 5,48).
terça-feira, 19 de abril de 2011
Hildegard von Bingen
Foi lendo a respeito do misticismo cristão da Idade Média que conheci Hildegard von Bingen. Foi uma descoberta e tanto. Ela foi uma pessoa iluminada, capaz de grandes gestos e responsável por uma obra de primeira grandeza. Isto tudo somado ao fato de ter sido uma freira em pleno século XII na Alemanha. Época e lugar onde mulheres não tinham voz nem vez para tratar de questões místicas ou religiosas. A diversidade de atividades e obras dá uma ideia de sua importância. Hildegard foi monja beneditina, mística, teóloga, compositora, pregadora, naturalista, médica informal, poetisa, dramaturga, escritora e mestra do Mosteiro de Rupertsberg em Bingen am Rhein, na Alemanha.
Sua noção espiritual de ligação com Deus pressupunha uma conexão cósmica do humano.
"Ela possuía uma concepção mística e integrada do universo, ainda que essa concepção não excluísse o realismo e encontrasse no mundo muitos problemas. A solução para eles, de acordo com suas idéias, devia advir de uma união cooperativa e harmoniosa entre corpo e espírito, entre natureza, vontade humana e graça divina."
Fonte: wikipedia
A seguir uma de suas composições. O trabalho de vídeo ficou muito bom. Sugestão: apague as luzes (para aproveitar melhor as imagens), aumente o som e boa viagem.
(a respeito dos textos que aparecem no vídeo leia mais abaixo)
Hildegard provinha de família nobre da região de Alzey, no sul da Alemanha. Já aos três anos de idade, a futura abadessa demonstrava habilidades visionárias. Mas foi somente aos 15 anos, como interna do convento junto ao mosteiro beneditino de Disibodenberg, que percebeu quão especial era a habilidade que possuía.
Hildegard viveu vários anos como uma simples freira. Com a morte da tutora Jutta, em 1136, ela se tornou a superiora do convento. Sempre acometida de doenças, tentava esconder suas visões. Aos 42 anos, recebeu a incumbência divina de escrevê-las. Por medo da tarefa, caiu doente. Somente após a intervenção de Volmar, seu padre-confessor, e do abade Kuno, ela começou sua obra.
Hildegard trabalhou durante cinco anos no livro Scivias (Saiba o caminho), ditando-o para Volmar, que corrigia gramaticalmente os escritos em latim. São Bernardo de Clairvaux, um dos maiores teólogos do século 12, interveio junto ao papa Eugênio 3° em prol de Hildegard. O papa enviou uma comissão para examinar o caráter de seus escritos. Não houve dúvidas, eram palavras de Deus.
Fonte: http://www.dw-world.de
A obra de Hildegard sobre plantas medicinais escrita em 1158 é, até hoje, referência da medicina natural. Hildegard não acreditava encontrar Deus na razão. Ela aprendeu a olhar os lírios dos campos e a ver neles a presença divina que também levaria a cura de doenças. Para ela, o homem saudável estava em sintonia com Deus. Hildegard aliou a antiga medicina dos gregos, propagada por Galeno, à fé cristã. Para ela, micro e macrocosmo interagem lado a lado em sua percepção do homem e de Deus. Para honrar a Deus, o homem teria que interagir com seu meio-ambiente.
A obra dela é extensa. Ela produziu nas diferentes áreas do conhecimento humano: artes (composição, poesia, dramaturgia), ciência escreveu o livro Liber subtilitatum diversarum naturarum creaturarum, (Livro das propriedades - ou sutilezas - das várias criaturas da natureza), dividido em Physica (Liber simplices medicinae) (Física - Livro da medicina simples) e Causae et curae (Liber compositae medicinae) (Causas e curas - Livro da medicina complexa), filosofia e teologia (escreveu uma triologia teológica) e tantas outras coisas. Ela chegou a criar um alfabeto e um língua artificial (que aparecem no primeiro vídeo acima - a princípio fiquei tentando identificar que linguagem era aquela) afim de descrever os seres que apareciam em suas visões.
Como compositora a música dela parece algo de outra dimensão. Há quem diga que ela era um ser multidimensional dada a sua incrível inteligência. A seguir um de seus poemas musicados e que faz parte de uma obra maior Symphonia
TRADUÇÃO
Oh verdíssima rama
Oh verdíssima rama, salve!
tu que surgiste no sopro
do mistério sagrado.
Era o tempo chegado
de em teus próprios galhos floresceres,
sejas, assim, louvada!,
pois o sol em ti transuda, ardente,
um bálsamo cheiroso.
Deveras em ti abriu rara flor,
que para todos, áridos antes,
deu seu perfume.
E então tudo apareceu
em sua verdura plena.
E o céu derramou seu orvalho
sobre a relva
e toda terra exultou,
pois de seu ventre
brotaram os grãos,
e as aves do céu
nela fizeram seus ninhos.
Assim foi criado o alimento do homem
e a riqueza feliz dos banquetes.
Virgem suave, oh, em ti
nunca míngua a alegria.
Eva uma vez lamentou tudo isso,
mas agora, seja louvado o Altíssimo.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Comer, rezar, amar
Eu não esperava muito do filme. Esperava mais uma comédia romântica açucarada. Mas tive uma boa surpresa. Há suas forçadas! Sem dúvidas! Se não, não seria cinema comercial americano! Como análise cinematográfica salvam-se a fotografia (paisagens lindíssimas), alguns diálogos e atuação de Julia Roberts e Javier Bardem. Mas o que me chamou a atenção foi o conteúdo espiritual do filme que eu não esperava muito. Há que se destacar.
O filme começa com Liz (Julia Roberts) consultando um xamã em Bali. Um senhor simpático e desdentado que faz uma série de previsões sobre sua vida incluindo seu retorno para aquela ilha.
Liz Gilbert parte em busca de autoconhecimento após desentendimento com o marido sobre os rumos de sua vida conjugal. Há claramente, desde o princípio, a busca de uma felicidade que preencha vazios existenciais. Condição não satisfeita pelo seu casamento. Buscar a felicidade não é sinal de egoísmo. Só é possível dar o melhor de nós mesmos quando não existem lacunas emocionais. Liz tentou fazer o melhor na relação mesmo que isto não significasse entrega autêntica. Sabia que o marido a amava, mas aquilo não era o bastante para sua felicidade.
Ao tentar decidir sobre o que fazer busca os céus. É muito bom o momento que ela vai rezar pela primeira vez e ao se dirigir a Deus começa dizendo: "Admiro muito seu trabalho!" Hahaha... Falta intimidade com o Criador...
Ela arrisca um relacionamento fugaz com um ator. Há uma empatia, mas também não iria longe. O namorado verbaliza uma sugestão para ela que na verdade fazemos muito tacitamente: ficamos juntos, mesmo que infelizes, para não sofrermos a dor da separação. É, no mínimo, sincero. Freud dizia que há duas maneiras de se buscar a felicidade: evitando a dor ou arriscando tudo. Liz faz sua opção pela segunda. Corajosa.
Liz parte então para o tudo ou nada. Larga a vida confortável em Nova York para tentar buscar algo que nem ela mesma sabe exatamente o que é. Ela sabe que é preciso arriscar. Vai aprender italiano na Itália.
Ao chegar em Roma, do alto de uma colina, de frente para o Vaticano, lembra de uma "piada" que diz que só podemos pedir a um Santo para nos ajudar a ganhar na loteria se comprarmos o bilhete para jogar. Ela estava comprando os bilhetes.
Roma não é o lugar da reza, como deixa claro o filme. Apesar da primeira imagem de Roma ser o Vaticano, Roma é o lugar do prazer. E os romanos sabem disto ao dizer que os americanos entendem é de entretenimento, mas não de prazer. Bela diferença feita.
Linguagem, gestos, culinária (a cena em que ela come espaguete é deliciosa!), paisagem belíssima (não poderia faltar a Toscana), clima romântico, ruas estreitas... Itália é realmente um lugar para o prazer sensorial.
Mas o quê do filme está na busca espiritual e esta se dá em maior medida na Índia. É lá que aparecem questões de fato fundamentais numa busca espiritual.
O silêncio da mente no processo meditativo.
É bem real a cena em que Liz tenta meditar pela primeira vez e não consegue devido aos pensamentos que insistem em marcar território em sua mente. Quem medita sabe o quanto é difícil as primeiras vezes. Há um diálogo com uma espécie de amigo-guru que ela conhece na Índia que vai dizer:"É necessário que você esvazie sua mente para que deixe a possibilidade da entrada de Deus". Mas ela aprende.
Este mesmo amigo-guru, um norteamericano do Texas, vai lhe apresentar outra pedra fundamental do autoconhecimento: a dor. A dor de se aceitar. Autoconhecimento é doloroso, é a descida ao nosso inferno. Pode ser uma dor psicológica como uma dor física como de uma doença. Lembrei-me de uma frase do falecido vice-presidente José Alencar: "O mal que o câncer me fez não é maior que o conhecimento que ele me proporcionou." E depois da dor do autoconhecimento vamos para outra etapa:
Perdoar a si mesmo para, então, perdoar os outros e querer que os outros nos perdoe. Nós somos os piores carrascos de nós mesmos. É nossa consciência que nos atira ao inferno ou nos eleva aos céus. Liz vai descobrir isto. E, ao mesmo tempo, apesar de ainda amar o ex-marido sabe que não tem mais volta. Porque uma vez iniciada uma jornada espiritual não se volta mais a mesma pessoa que partiu. Ela já era outra.
A viagem como busca espiritual é a necessidade de rompermos valores estabelecidos. Longe de casa, da própria língua, da cultura, dos referenciais conhecidos nos voltamos mais para nós mesmos. Há quem busque o deserto para esta introspecção. Na ausência de referenciais externos só é possível buscar um norte dentro de si mesmo.
E aí, é necessário ser corajoso para nos reconhecermos e ancorarmos nosso barco de desejos e necessidades no porto daquilo que realmente somos.
A parte de amar... bom, aí fica a parte mais açucarada, com clichês (tipo: o acidente que leva o casal romântico a se encontrar...) etc.
Vale citar as canções brasileiras no filme (Wave de Tom Jobim na voz de João Gilberto, Samba da Benção de Vinicius e Baden Powell interpretada por Bebel Gilberto) e o próprio Javier Bardem, personagem Felipe, como brasileiro e que arrisca no português. Deu para enganar bem. Engraçado ele explicando para Liz que ela era uma "falsa-magra". Essa expressão é definitivamente tupiniquim.
Ao final Liz resume sua aventura no que ela chamou de "Física da Procura". O texto explicativo é fantástico. Resolvi reproduzi-lo na integra:
"Se você tiver coragem de deixar tudo o que é familiar e conhecido, desde a sua casa até antigos ressentimentos, para partir em busca de uma verdade interna ou externa. E se dispuser a encarar tuo o que lhe acontecer como uma pista e aceitar todos os que cruzarem seu caminho como um mestre e se estiver preparada, acima de tudo, para aceitar e perdoar realidades duras sobre si mesma então, a verdade não lhe será negada."
Definitivamente não é um filme profundo, mas para quem esperava pouco valeu a pena. O livro homônimo que deu origem ao filme deve ser, como dizem, mais completo. É verificar para confirmar.
sábado, 16 de abril de 2011
Habemus Papam (por enquanto?)
Hoje é aniversário de 84 anos do papa Bento XVI. À medida que a idade avança, por se tratar do papa, fica a questão de quanto tempo resta para o seu papado. Eu não desejo que alguém morra, nem o papa. A questão em relação aos papas é outra. Sabemos que o tempo de papado é determinado pelo seu tempo de vida. E daí?
É que lembrei-me da profecia de São Malaquias. Para quem não sabe São Malaquias, batizado Maelmhaedhoc O'Morgan, foi um padre irlandês que nasceu em 1094. Após sua ordenação começou a ter visões. E estas visões apresentavam a sequência de papas até, provavelmente, o fim da Igreja Católica ou do Vaticano. Digo provavelmente porque a lista de papas tem um fim. Presume-se, então, que seria também o fim do Igreja.
As visões recebidas lhe causavam muita angústia. Sobre elas escrevia sátiras ou lemas para descrever cada papado. Foi então que em 1140 passou seu escritos para o Papa Inocêncio II que, a princípio resistiu às profecias, aceitou depois de uma advertência, através também de uma visão, de Deus.
São 112 lemas (desde Celestino II até hoje) relacionados a papas e, segundo São Malaquias, estaríamos no 111° lema papal com Bento XVI. Ou seja, Bento XVI é o penúltimo papa.
A relação dos lemas com os papas é muito interessante e há de fato correlação. Tanto que o Vaticano leva isto a sério (vide abaixo a respeito do conclave de Bento XVI). A lista também é bastante extensa e vale a pena verificar. No entanto vou descrever apenas o lema dos últimos três papas, e do que seria o 112°, e sua relação com os papas.
109° DE MEDIETATE LUNAE (Da metade da Lua)
João Paulo I - Albini Luciani (1978)
Significado do nome Albini Luciani é "Luz Branca". João Paulo I nasceu em Forno de Canalin, na diocese de Belluno, e Luno, em latim, é Lua. Em vários momentos muito importantes da sua vida (nascimento, ordenação, eleição como bispo de Veneza etc...) a lua estava em quarto crescente.
Todos os cardeais que participavam do conclave na sua eleição para papa não tinham nada que os relacionassem ao lema.
110° DE LABORE SOLIS (O Trabalho do Sol)
João Paulo II - Karol Josef Wojtyla (1978-2005)
Wojtyla era polonês assim como Copérnico que descreveu o movimento do Sol. Foi um dos únicos papas que trabalharam fisicamente. Considerado um dos papas que mais trabalhou foi, com certeza, o que mais viajou. Assim extendeu o contato do Vaticano com o mundo.
111° GLORIA OLIVAE (Glória da Oliveira)
Bento XVI - Joseph Alois Ratzinger (2005- ?)
Diz-se que durante o último conclave (reunião para escolha do papa) os cardeais evitaram escolher alguém que tivesse alguma relação com o lema de "Glória da Oliveira". Ratzinger, aparentemente, não tinha nenhuma relação por ser de origem alemã, ou seja, na Alemanha não se produz oliveiras. No entanto, quando Ratzinger escolheu seu nome de papa fez aí então a relação com o lema. Bento viria de Beneditinos. O símbolo dos beneditinos é uma oliveira (vide gravura acima logo abaixo da foto de Bento XVI). Aliás, São Malaquias era monge beneditino. Ainda, segundo este santo, a ordem dos beneditinos seria importante nos "finais dos tempos" porque a Igreja passaria por difíceis acusações e processo de destruição. Alguma relação com padres pedófilos e 2012? E enfim:
112° PETRUS ROMANUS (Pedro, o romano)
???
Este seria o último papa. Ele apaziguaria as ovelhas da igreja católica mas também assistiria à destruição da cidade das sete colinas: Roma. Seria também o momento do "fim dos tempos", ou seja, o fim da era de peixes e início da era de Aquários. Quem seria? Seria alguém chamado Pedro? Seria alguém de Roma?
O interessante, ou terrível para muitos, é a convergêngia das profecias de São Malaquias com outras profecias sobre 2012 e os acontecimentos vindouros do fim da era de Peixes. As profecias de São Malaquias não se referem apenas aos papas. O santo previra sua própria morte, com data e horário, e acertou. Mas são as profecias dos lemas papais as que mais intrigam por que dão conta do fim da Igreja Católica baseada no poder do Vaticano.
De qualquer maneira fica a expectativa se as profecias dos lemas papais continuarão a se concretizar com o próximo, e, quem sabe o último, papa.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Título e objetivo do blog
Alma: princípio de vida, espírito
Defumada: que passou por defumação
O título sugere algumas interpretações no que se refere à defumação. Quanto à alma não há margens para dúvidas que falamos do espírito encarnado. Portanto falaremos de coisas que não se referem somente ao espírito ou à espiritualidade para além da vida na Terra. Falaremos do espírito que passa por experiências humanas. Ou seja: enquanto alma com suas emoções, sentimentos e a vida na Terra com suas limitações.
Já a respeito da defumação podemos pensar em duas possibilidades. A defumação enquanto ritual de limpeza ou purificação. E também a defumação como processo de apuramento do sabor de um alimento. Como se defuma queijo ou carne.
No primeiro caso sabemos que a defumação é ato de diversos tipos de religião e ritos, ora como queima de ervas, ora com a queima de incenso etc. Há defumação no catolicismo, na umbanda, no candomblé, no xamanismo, no hinduísmo, no budismo etc. Desta mesma maneir este blog não se restringirá a uma crença ou mais crenças, este é sobre espiritualidade no geral. A idéia de uma alma que passa por tal processo, de limpeza ou purificação, nasceu de experiência de quem experimentou ritos de passagem e se limpou ou purificou.
Defumação também faz-me lembrar de um tio benzedor do interior. Ele usava a fumaça de ervas que ele queimava no momento da benzeção. Ele espalhava a fumaça em volta do nosso corpo enquanto fazia suas rezas. Eu era uma criança, ficava sentadinho numa cadeira colocada no meio do quintal em noites de lua. Tenho a imagem do quintal iluminado pela lua. Eu achava tudo aquilo estranho e interessante ao mesmo tempo. Por conta disto gosto do cheiro de ervas queimadas que são utilizadas em purificação de espaços. É uma lembrança familiar.
No segundo caso é de uma alma curada no sentido que teve seu sabor alterado, ou melhor, passou por processo de apuramento de sabor pela exposição à fumaça. Neste caso se desdobra em duas possibilidades: a primeira diz respeito à melhoria da alma por ter melhorado seu "sabor" e a segunda a experiência de vida. Trata-se de uma alma que viveu, que se transformou a partir das sensações (prazeres e dores através dos sentidos) da carne. A fumaça, no caso, é a própria vida que lhe dá sabor, que a melhora e a difere de uma alma "crua".
Para mim há ainda uma última referência bastante pessoal e esta explicada de maneira bem simplificada nos haikais do primeiro post deste blog. Está relacionada à minha infância na casa de meus avós no interior de São Paulo. A casa que ficava no campo vivia impregnada do cheiro da fumaça do fogão à lenha. A casa assim como o cotidiano da família, pode-se dizer, ficavam defumados. Havia também o processo de defumação da carne de algum animal abatido, mas este ocorria num paiol próximo da casa maior. O fogo e a fumaça eram bem presentes na vida e nas atividades da casa e do sítio. Sempre que sinto cheiro de fumaça de lenha lembro-me daquele tempo. É a memória marcada na alma.
domingo, 3 de abril de 2011
Luiza e suas ervas medicinais
Fui à feira pela manhã como tenho feito nos últimos domingos. Esta não é uma atividade que eu goste. Eu a evito como posso. No entanto, como pai e conhecedor do preço dos alimentos nos supermecados e sacolões e da qualidade destes produtos nestes lugares citados a feira é uma opção interessante.
Então, hoje assim que entrei na balbúrdia organizada lembrei-me que na semana passada conheci de relance uma barraca que já estava em desmonte e que me chamou a atenção. Era uma barraca de ervas medicinais.
Mas não era qualquer barraca. Devia haver perto de duas centenas dos mais diferentes tipos de cascas, folhas, plantas desidratadas, compostos etc. Fiquei impressionado.
Depois de lembrar-me desta barraca, não tive dúvidas, para lá fui. E lá conversei com a mesma mulher que me atendeu rapidamente na semana passada: Luiza.
Luiza é uma mulher de altura mediana, negra, com um sorriso largo e fácil e um olhar que transmite alegria e confiança. Comecei perguntando de algumas cascas de árvores que tirei, por curiosidade, dos sacos expostos na banca. Minutos depois já conversávamos sobre a sua ascendência mineira e africana, da influência no conhecimento das plantas de seu pai moçambicano e seu tio Antônio Pereira de Minas, que conhecia o médium Chico Xavier.
Luiza também é benzedeira. Ela procurou deixar claro que sempre que pratica a caridade com bezenção ou ervas ela se torna apenas um instrumento de Deus. Que não é ela que sabe das coisas, senão os "anjos" que estão juntos a ela.
Ela frequenta uma igreja evangélica no Brás, que aliás é bastante famosa e tem seus cultos transmitidos pela televisão. Gosta do culto evangélico e confia na integridade do pastor que faz o sermão. Apesar disso não se diz evangélica e não gosta de carregar rótulos. Ela atende a todos sem distinção. Procura viver do seu conhecimento com ervas medicinais e sempre que possível pratica sua caridade com cura.
Ela, em quinze minutos de conversa entre atendimentos a clientes, demonstrou um profundo conhecimento sobre plantas, crenças e, principalmente espiritualidade. Fiquei impressionado e feliz.
Meu interesse pelo assunto vem de um resgate também de minha ascendência. Tenho orgulho de ter nascido em minha família de benzedeiros. Um tio, por parte de mãe, chegou a ficar famoso por suas curas milagrosas na região de Presidente Prudente. Ele inclusive é homenageado com uma praça com seu nome na cidade de Iepê-SP.
Esta prática que persiste, mas ainda é vítima de preconceito, perde espaço frente à indústria farmacêutica alopática.
É fundamental que reconheçamos a sabedoria e o trabalho daqueles que atuam com fitoterápicos e rezação. É necessário dizer que nem tudo que vem da natureza ou é "natural" só faz bem ao corpo e à alma. É preciso pesquisa científico, é preciso conhecimento tradicional. Se não reconhecemos este tipo de trabalho pessoas como Luiza e detentores deste tipo de conhecimento em comunidade tradicionais (caboclos, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caiçaras etc.)espalhados pelo Brasil ficam à mercê da biopirataria. Temos vários casos de vegetais endêmicos que foram patenteados no estrangeiro. Então o princípio ativo destas plantas viram remédios e, nós brasileiros, temos que pagar caro por royalties destes mesmos medicamentos. Não é justo!
Próxima vez que eu for à feira conversarei mais com Luiza.
sábado, 2 de abril de 2011
A Janela do Hospital
(adaptado)
Dois homens seriamente enfermos estavam na mesma enfermaria de um grande hospital. O quarto era bastante pequeno, com apenas uma janela. A cama de um deles estava próxima da janela. Como parte do tratamento para melhorar sua circulação esse paciente tinha permissão para sentar em sua cama por uma hora todas as tardes. O outro, contudo, tinha que passar o tempo todo com a barriga para cima.
Todas as tardes, quando o homem cuja cama ficava ao lado da janela era colocado em posição sentada, ele passavo o tempo descrevendo o que via lá fora. A janela dava aparentemente para um parque onde havia um lago. Havia patos e cisnes no lago e as crianças atiravam pedaços de pão ao animais e colocavam barcos de brinquedo na água. Jovens namorados caminhavam de mãos dadas entre as árvores e havia flores, gramado e jogos de bola. E, ao fundo, por trás da fileira de árvores, avistava-se o belo contorno dos prédios da cidade.
O homem deitado ouvia o sentado descrever tudo isso, apreciando todos os minutos. Ouviu como uma criança quase caiu no lago e como as garotas estavam bonitas no seus vestidos de verão. As descrições do seu amigo eventualmente o fizeram sentir que quase podia ver o que estava acontecendo lá fora.
Então, numa bela tarde, ocorreu-lhe um pensamento: Por que o homem que ficava perto da janela deveria ter todo o prazer de ver o que estava acontecendo lá fora?
Por que ele não poderia ter esta chance? Ele já se sentia muito melhor só de imaginar a vida acontecendo através da janela, se pudesse ver, então, melhoria mais rápido ainda.
De qualquer maneira ele aceitou aquela situação e assim prosseguiram os dias. O homem que só escutava ficava ansioso pelas horas da tarde em que o homem ao lado começava a descrever a paisagem e os acontecimentos através da janela.
Certa vez, passou ao lado do parque um desfile que o homem próximo da janela descreveu com a mais perfeito detalhamento. O homem que escutava não apenas conseguia visualizar o desfile como também era capaz de escutar a música tocada e sentir a emoção contida nas pessoas que participavam da parada.
Na manhã seguinte o homem que só ficava deitado percebeu uma movimentação estranha no quarto. Perguntou o que havia acontecido e, então, ele ficou sabendo que seu colega havia falecido. Morrera durante a noite de causas naturais e de maneira muito serena. Ele lamentou muito o acontecido.
Assim que arrumaram o quarto o homem que ficou perguntou se não poderia ser colocado próximo na outra cama. Claro que podia. Arrumaram-na para ele. Ele ficou extasiado porque poderia, então, ver a vida fora do hospital. Então, colocaram-no lá, aconchegaram-no sob as cobertas e fizeram com que se sentisse muito confortável. Assim que as enfermeiras o deixaram só ele se apoiou sobre um cotovelo, com dificuldades e sentindo muita dor ele conseguiu se sentar. Imediatamente olhou para fora da janela. Viu apenas uma parede de tijolos.
O homem chamou a enfermeira e assim que ela entrou no quarto lhe perguntou como seu ex-colega lhe descrevia coisas tão maravilhosas fora da janela se o que ele só via era uma parede. A enfermeira respondeu que o homem nem sequer podia ver a parede porque ele era cego.
Autor desconhecido.
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