"A alma humana é crística por sua natureza". Tertuliano

domingo, 3 de abril de 2011

Luiza e suas ervas medicinais


Fui à feira pela manhã como tenho feito nos últimos domingos. Esta não é uma atividade que eu goste. Eu a evito como posso. No entanto, como pai e conhecedor do preço dos alimentos nos supermecados e sacolões e da qualidade destes produtos nestes lugares citados a feira é uma opção interessante.

Então, hoje assim que entrei na balbúrdia organizada lembrei-me que na semana passada conheci de relance uma barraca que já estava em desmonte e que me chamou a atenção. Era uma barraca de ervas medicinais.

Mas não era qualquer barraca. Devia haver perto de duas centenas dos mais diferentes tipos de cascas, folhas, plantas desidratadas, compostos etc. Fiquei impressionado.

Depois de lembrar-me desta barraca, não tive dúvidas, para lá fui. E lá conversei com a mesma mulher que me atendeu rapidamente na semana passada: Luiza.

Luiza é uma mulher de altura mediana, negra, com um sorriso largo e fácil e um olhar que transmite alegria e confiança. Comecei perguntando de algumas cascas de árvores que tirei, por curiosidade, dos sacos expostos na banca. Minutos depois já conversávamos sobre a sua ascendência mineira e africana, da influência no conhecimento das plantas de seu pai moçambicano e seu tio Antônio Pereira de Minas, que conhecia o médium Chico Xavier.


Luiza também é benzedeira. Ela procurou deixar claro que sempre que pratica a caridade com bezenção ou ervas ela se torna apenas um instrumento de Deus. Que não é ela que sabe das coisas, senão os "anjos" que estão juntos a ela.

Ela frequenta uma igreja evangélica no Brás, que aliás é bastante famosa e tem seus cultos transmitidos pela televisão. Gosta do culto evangélico e confia na integridade do pastor que faz o sermão. Apesar disso não se diz evangélica e não gosta de carregar rótulos. Ela atende a todos sem distinção. Procura viver do seu conhecimento com ervas medicinais e sempre que possível pratica sua caridade com cura.

Ela, em quinze minutos de conversa entre atendimentos a clientes, demonstrou um profundo conhecimento sobre plantas, crenças e, principalmente espiritualidade. Fiquei impressionado e feliz.

Meu interesse pelo assunto vem de um resgate também de minha ascendência. Tenho orgulho de ter nascido em minha família de benzedeiros. Um tio, por parte de mãe, chegou a ficar famoso por suas curas milagrosas na região de Presidente Prudente. Ele inclusive é homenageado com uma praça com seu nome na cidade de Iepê-SP.


Esta prática que persiste, mas ainda é vítima de preconceito, perde espaço frente à indústria farmacêutica alopática.

É fundamental que reconheçamos a sabedoria e o trabalho daqueles que atuam com fitoterápicos e rezação. É necessário dizer que nem tudo que vem da natureza ou é "natural" só faz bem ao corpo e à alma. É preciso pesquisa científico, é preciso conhecimento tradicional. Se não reconhecemos este tipo de trabalho pessoas como Luiza e detentores deste tipo de conhecimento em comunidade tradicionais (caboclos, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caiçaras etc.)espalhados pelo Brasil ficam à mercê da biopirataria. Temos vários casos de vegetais endêmicos que foram patenteados no estrangeiro. Então o princípio ativo destas plantas viram remédios e, nós brasileiros, temos que pagar caro por royalties destes mesmos medicamentos. Não é justo!

Próxima vez que eu for à feira conversarei mais com Luiza.


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